A Força do Hábito na Construção Socioemocional da Criança

Como você se sente perante a situações em que não sabe o que esperar? Quais sentimentos surgem quando algo que não está nos seus planos acontece? É provável que você responda “medo”, “ansiedade”, “insegurança”, ou quem sabe um pouco de cada. Agora, imagine enfrentar essas sensações todos os dias, em uma fase da vida que você ainda não está preparado emocionalmente para lidar com tais instabilidades.

Adultos levam uma certa vantagem nessas ocasiões, uma vez que experimentamos, ao longo da vida, acontecimentos que nos deixaram, de certa forma, mais preparados para o inesperado. Para as crianças, essas vivências são diferentes, pois elas ainda não tiveram tempo de passar por muitas experiências e nem poderiam, já que as mesmas são construídas ao longo da vida.

Assim, situações que fogem do cotidiano podem deixá-las bem desconfortáveis e inseguras, e vivenciar isso de forma contínua não colabora para a construção sólida do âmbito social e emocional. Saber o que vem a seguir ajuda a aceitar melhor os acontecimentos que se aproximam, sem a presença de uma autoridade negativa, além de construir uma estrutura emocional sólida, fazendo com que a criança aprenda a administrar o próprio tempo, seja responsável e, aos poucos, aprenda a caminhar sozinha.

A Importância da Força do Hábito na Construção Socioemocional da Criança

Como estrutura social número 1 na vida da criança, a família tem a responsabilidade de organizar e desenvolver bons hábitos na rotina dos pequenos. À medida que passa o tempo, outras figuras – como irmãos ou amigos – vão assumindo esse papel. Nas palavras de Oliveira (2002), a rotina diária é para as crianças o que as paredes são para uma casa: dão limites, fronteiras e dimensão à vida. A rotina dá uma sensação de segurança e estabelece um sentido de ordem, do qual nasce a liberdade.

A rotina faz parte de um princípio de organização mental de esquemas, que permite à criança compreender que há um tempo e espaço para atender a determinados comportamentos, como comer, tomar banho, dormir ou escovar os dentes. Essas aprendizagens se dão através da força do hábito – por isso a importância de ensiná-las por meio de atos repetitivos e constantes desde a primeira infância, tendo como resultado a internalização das tarefas, sejam elas elementares ou complexas.

Não espere que seus filhos estejam em idade escolar para estabelecer sua rotina; será muito mais difícil quebrar os “maus hábitos”. Hábitos e rotina podem ser inseridos desde o primeiro dia de vida da criança.

Contudo, não se afobem. Entendam que cada criança tem uma personalidade e um tempo para assimilar cada aprendizagem – ou seja, nada de comparações. O mais importante, seja qual for o caso, é fazer com que todas as rotinas (alimentação, descanso, higiene, brincadeiras e tarefas típicas da vida escolar) sejam rituais divertidos e amorosos, e não obrigações impostas. Todos os hábitos precisam ser exemplares e coerentes e todos devem ser realizados com a mesma constância e intensidade, para que sejam internalizados com sucesso.

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Força do Hábito na Construção Socioemocional da Criança – Exemplo dos Pais

Mais do que conselhos, as crianças seguirão os exemplos. Por isso, ser coerente é parte fundamental desse processo. Se você deseja estabelecer um hábito na rotina da criança de boa alimentação, leitura ou higiene, seja você o modelo. Alimente-se bem, lave as mãos antes das refeições, escove os dentes após as refeições, leia muito e compartilhe esses momentos com seu filho; façam juntos diariamente, de tal forma que se tornem hábitos e naturalmente sejam incorporados na rotina de forma autônoma, o que colabora com o senso de domínio e controle da própria vida. Isso refletirá no adulto que a criança se tornará.

Para a psicopedagogia, uma rotina bem estruturada, tanto em casa quanto na escola, envolvendo bons hábitos de higiene, alimentação, exercícios, estudos e lazer, colabora com o equilíbrio emocional da criança, já que ajuda a desenvolver uma base sólida e um sentimento de segurança com possibilidade de autonomia. Dessa forma, é possível preparar um sujeito capaz de aprender de modo eficiente, significativo e pertencente a este processo.

Fonte: OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. Cortez Editora, 2002.